quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Chico Buarque de Holanda canta o sentimento humano e por isso ele me representa!

Katharine Ninive Pinto Silva
10 de agosto de 2017

Nos últimos tempos tenho escutado e lido algumas mulheres e homens de esquerda analisando as músicas de Chico Buarque buscando discordar da imagem deste como entendedor da "alma feminina" moderna. Por outro lado, um outro grupo vem criticando Chico Buarque pelos posicionamentos políticos dele em defesa do PT e de Lula. Particularmente continuo achando que Chico Buarque é um poeta do sentimento humano, com uma capacidade de falar das pessoas e das relações sociais, iniciando pelas questões mais existenciais, como em Roda Viva, por exemplo:

"Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá"

E como explica a situação da exploração do trabalho no nosso sistema capitalista e de como o trabalhador é visto pela sociedade, como em Construção:

"Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego"

E como falou de questões políticas, driblando a censura de uma Ditadura Militar, com versos que nos parecem tão atuais, como em Apesar de Você:

"Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
[...]
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa"

E daqueles sentimentos mais sensuais, sensoriais, sexuais, em O Meu Amor?

"O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada"

E daquela volta por cima que todos gostaríamos de dar quando o nosso amor nos diz que não nos quer mais, como em Olhos nos Olhos:

"Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais"

Ou daquele amor platônico e a esperança que nutrimos de que ele se torne real, mesmo que não seja necessariamente com a gente, como em Futuros Amantes:

"Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você"

Ou daquela esperança de que um amor doentio se torne um amor gostoso, sadio, livre, como em Todo o Sentimento:

""Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente
Prefiro, então, partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente

Depois de te perder
Te encontro, com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu"

E enquanto isso, continua atual a música Vai Passar:

"Dormia
A nossa pátria mãe tão distraída
Sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações"

Por fim, depois de tanta polêmica, acabei gostando da música nova de Chico Buarque, Tua Cantiga! Sobretudo porque ela bate de frente nos valores hipócritas dessa geração de brasileiros!




2 comentários:

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